segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Esmeralda

Sou mãe, os meus filhos são a minha vida. Não consigo imaginar-me sem eles. Além dos laços de sangue, existem os laços do amor, da convivência. Um dos meus filhos tem a idade de Esmeralda. Ao olhar para ele penso que, vendo as coisas da perspectiva dele, para ele pouco lhe importa os laços de sangue, não tem idade para saber o que é isso, para ter essa noção, somos a mãe e o pai dele, as pessoas que o amam, que o cuidam, que lhe ralham, que lhe dão carinho, que vivem com ele, é nosso filho biológico, mas quer lá saber o que é isso, não consigo imaginar nada que o aterrorizasse mais do que agora chegar alguém ao pé dele e lhe dissesse tu tens que ir viver com outra pessoa porque os teus pais não são teus pais, os teus pais são outras pessoas e é com elas que vais passar a viver, deve ser horrivel, aterrorizador para uma criança daquela idade.
Quem é que agiu mal? Na minha modesta opinião, todos os intervenientes. A mãe agiu mal porque a deu (ou vendeu??) o pai porque se recusou a ajudar a mãe e não quis saber do assunto, se tivesse dependido dele a criança não teria nascido, teria morrido, sei lá. Os pais afectivos agiram mal porque não deviam ter ficado com ela naquelas circunstâncias, como se estivessem a fazer um contrato de promessa de compra e venda, e os juizes agem mal porque tomam as decisões baseados em leis que foram feitas a pensadas por adultos, para adultos e que raramente, ou nunca, pensam na criança ou no beneficio da criança, são leis feitas para punir ou beneficiar adultos. A decisão tomada favorece o pai biológico, pune os pais afectivos e prejudica inegavelmente a criança, apesar de se falar tanto no superior interesse da criança. Pelos vistos os senhores juizes acham normal, e legítimo um homem não querer saber da paternidade, havendo essa possibilidade, mantendo, ou não a relação com a mãe. Pelo que eu percebi o interesse do pai, só surgiu quando o casal tentou formalizar a adopção.
Argumentam os juizes que decidir de outra maneira iria, eventualmente, abrir um precedente no caso de raptos, em que a criança não convivesse com os pais e construisse laços de afectividade com os raptores e desse modo, alegando traumas para a criança, uma familia se visse impossibilitada de reaver uma criança raptada. Esta criança foi raptada? Não! Existe uma situação familiar estável, uma familia padrão, pai e mãe juntos? Não! Se calhar se Baltazar tivesse estado presente desde o inicio a mãe não a tinha dado. Tem Baltazar o direito de se arrepender e querer conviver com a filha? Tem! Assim como a própria mãe biológica também tem esse direito. Alguém perguntou à criança o que ela quer ou pensa? Não tem idade para querer nem para pensar. E quando tiver?
A solução não é fácil mas para ser minimamente justa tem que passar por todos os intervenientes. Uma coisa tenho eu a certeza como mãe de uma criança (biológica e não só) da mesma idade, não é do interesse da criança ser arrancada do lar que conhece, nem dos pais que conhece e ama, embora reconheça que talvez também não seja do seu interesse ser impedida de se relacionar com o pai biológico. Deviam pensar melhor.

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