sábado, 22 de agosto de 2009

O pedregulho podia (devia) ter caído de noite

Triste evento aquele que se deu ontem na praia Maria Luísa em Albufeira. Uma pessoa fica a pensar que má sorte teve aquela gente que estava no sitio errado à hora errada, no fundo aquele tipo de fatalidade que pode acontecer a qualquer um sem aviso prévio. Também eu costumo ir para a Praínha que também tem aquele tipo de falésias, também lá há sinalização a advertir para o perigo de desmoronamento, também lá há sempre montes de gente instalada junto às falésias a aproveitar as sombras, por acaso eu que sou acagaçada e ando sempre com a paranóia das seguranças não me ponho lá debaixo, muito menos com os meus meninos, mas a praia é tão pequena, que na verdade em qualquer lugar uma pessoa está sempre perto, enfim acontecimentos destes deixam sempre uma pessoa consternada, são vidas que perdem de maneira tão estúpida. Mas o que me deixa perplexa é o voyeurismo, as pessoas que se deslocam ao local de propósito para ver o sitio da tragédia, sem outro propósito senão esse, ver. A mim parece-me uma coisa muito mórbida, faz-me lembrar aquelas pessoas, que na sequência da tragédia de Entre-os-Rios, se deslocaram lá, vindas de vários cantos do país, alguns percorreram centenas de quilómetros, só para ver, ver as ruínas da ponte, ver os trabalhos de remoção do autocarro, ver as buscas pelos corpos, alguns até davam a ideia de frustração de não terem visto nenhum corpo a emergir das águas, que coisa sinistra.
Estava eu há pouco a ver as noticias e deu uma reportagem a dar conta do dia seguinte ao sucedido, e andavam por ali a entrevistar os mirones, pessoas que se deslocaram ali para admirar os pedregulhos que no dia anterior tinham tirado a vida a 5 pessoas, inclusive ninguém tem pudor em dizer que estava ali porque foi ver, havia uma que inclusive levava um calhau de recordação e a jornalista perguntava-lhe porque levava aquilo, e a mulher respondia que para ela aquilo tinha muito valor, mas que valor? insistia a jornalista , e a energúmena dizia, valor. Tinha muito valor mas pronto, ela não sabia qual. Que gente mais tarada. O que irá aquela abécula fazer com o calhau? Será que o vai pôr em cima de um naperon sobre o móvel da sala e ao receber convidados vai dizer-lhes este calhau fez parte daquele grupinho de calhaus que matou 5 pessoas no Verão de 2009, na praia Maria Luísa em Albufeira, Dios mio, não percebo, faz-me espécie.
Sempre me fez confusão esta gente que se alimenta da tragédia, que se excita com a tragédia. Aqui há uns anos, menos de um mês depois daquele grande terramoto na Turquia, nos arredores de Istambul, fui a Istambul, por razões profissionais, uma das pessoas que me acompanhava, fez tudo para ir ver o lugar da tragédia, queria porque queria ir ver, claro que toda a gente o tentou demover e não foi, mais por não ter tido quem o ajudasse do que por conclusão pessoal, não foi porque só lhe puseram entraves, mas ficou frustrado, ainda disse que a única coisa que o interessava em Istambul, era isso, ver os destroços do recente terremoto(que estavam a uns 90km, num subúrbio), de preferência com gente ainda a agonizar pelas ruas, credo! Há para aí cada freak.

Sem comentários:

Enviar um comentário