segunda-feira, 2 de março de 2009

Courbet e quejandos

O país ficou mais culto.

Esta semana ficámos todos a saber que no sec XIX existiu um pintor chamado Gustave Courbet e que o dito pintou uma obra de arte, entre outras obviamente, chamada a origem do mundo e que a mesma está exposta no Museu d'Orsay em Paris, falta ainda dizer que a tal obra representa aquele lugar primordial por onde todos passamos no momento da nossa origem, seja no momento da concepção, seja no momento do nascimento (salvo os que nascem por cesariana) a vagina. Mas não é uma vagina qualquer, é uma vaginona peluda, entreaberta, ali a olhar uma pessoa de frente. E o povo chocou-se. Parece que a dita obra de arte decora a capa de um livro exposto numa feira do livro em Braga e o povo mandou chamar a policia, que apreendeu os livros pecaminosos. E é sobre o quê o livro? E mais povo se chocou com a censura, com a ignorância da policia e do outro povo que estupidamente não reconheceu naquela cona peluda uma obra de arte do sec XIX exposta no museu de Orsay arghh Santa Ignorância. E mais vozes se levantaram e ficámos a saber quem é e quem não é sexualmente resolvido, e o que pode e deve opinar cada um, consoante se situe no patamar dos bem resolvidos, que fodem sem problemas, seja a vagininha rapada a cera quente ou a cona barbuda,ou no patamar das profundezas do recalcamento sexual judaico-cristão.

Assim aqueles que acham que quem expulsou ou apoiou a expulsão da vagina não encara o sexo olhos nos olhos (ou melhor vagina nos olhos) além de sofrer de uma ignorância artística gritante, parece-me que esses são os bem resolvidos sexualmente. Entretanto baralhei-me, porque depois também apareceram muitos com tom paternalista dizendo que as pessoas tinham direito a indignar-se e que a policia não tem que saber que aquilo era uma obra de arte, uma cona valha-me Deus!, e que sim senhora estava tudo muito certo, mas que a obra, o tal livro, apenas se encontrava no contexto errado, ou seja ali na feirinha das ruas de Braga onde famílias passeavam com as suas inocentes crianças. Calculo que o livro se venda noutros sítios, em livrarias por ex. onde não se vai em família, quiçá hipermercados, aqui cuidado porque excursionam famílias com sua prole. E estes indignaram-se com aqueles que se tinham indignado com a policia e bracarenses e ironizaram a modernice de uns e condescenderam no preconceito dos outros, tipo não penso como tu mas compreendo-te ser culturalmente, socialmente e sexualmente inferior a mim.

Enfim não me alongarei, mas não quero deixar de dar a minha opinião neste espaço devidamente escondido e onde ninguém vêm, onde se pode ser politicamente incorrecto à vontade, e destilar ignorância sem receio.

Cá para mim quem esteve na origem disto tudo foi a editora, que foi pouco a pouco lançando a sementinha da indignação, contratou uma beata ou duas, acendeu o rastilho e pumba, publicidade grátis em todos os media. Aposto que o tal livrito, é sobre o quê?, se vai tornar um bestseller, de caminho ainda deram uma lição de história de arte a estes mentecaptos.

Eu por mim agradeço a poder tratar o Coubert por tu, embora não estivesse totalmente às escuras, sou daquelas iluminadas que já esteve aparvalhada diante da Origem do mundo, o original, convenhamos que sendo eu do sexo feminino e heterossexual assumida não é um ângulo banal para mim, mas pronto, tá bem não me lembrava do seu autor, mas lembro-me exactamente do sitio onde está no museu.

Outra questão que se levantou é a de saber se a dita pintura trata de pornografia ou erotismo, pois! e agora tenho pena de ninguém ler isto, porque aqui acho que podia tirar as dúvidas a muito boa gente, ensinando e partilhando o meu saber assim sem pedir nada em troca, até o Miguel Sousa Tavares sentiu necessidade de por uma etiqueta na vagina.

Pois Caros espantai-vos aquilo não é nem erotismo nem pornografia é pura e simplesmente tcharaaaaaaaammmmm ANATOMIA oh yé barnabé; E não percebo o chinfrim, juro.

Eu sei, eu sei, não é para todos, é muito museu.

Na verdade ou os meu filhos são anormais ou o caraças, porque tenho a certeza que, qualquer um deles, ao passar diante daquela capa, naquela linda tarde (ou manhã) em Braga, teria olhado para aquela vaginita com o mesmo interesse com que teria olhado para um pé, uma barriga, uma mão, um rabo, uma cara, para eles, que são crianças, aquilo é anatomia. Daí que aquelas mães de Braga tenham pecado a vários níveis ataviando o desenvolvimento dos conhecimentos das suas crias ao nível da ciência (anatomia) e da arte (pintura francesa sec XIX).

Já aqui vai uma grande trapalhada.
Cómico país este em que as vozes das mães de Braga (contra a vagina peluda francesa) e as das mães de Bragança (contra as vaginas peladas brasileiras) se conseguem ouvir melhor e mais rapidamente e sobretudo mais eficazmente que as vozes das mães que de alguma maneira precisam de ajuda para ajudar os seus filhos.

2 comentários:

  1. Não conhecia o blog, e venho cá dar de caras com isto. Finalmente alguém que pensa como eu (e o explica bem melhor). É que é isto mesmo.

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