Devido a uma situação infeliz, fui à minha terra.
Vou lá amiúde, uma vez que vive lá a minha família progenitora e colateral. Acontece que quando lá vou encontro pouca gente. Há aqueles com quem continuo a manter contacto porque são família ou amigos de sempre, mas a grande maioria das pessoas que conhecia na infância e adolescência, inclusive colegas de escola, deixaram de fazer parte do meu universo e vai para perto de 20 anos que não os via. Reuni-me com essas pessoas terça feira. Foi tão estranho. Foi como se tivesse estado adormecida durante 20 anos e de repente, ali naquele lugar, tivesse acordado e olhado para eles e me tivesse dado conta que toda a gente tinha envelhecido excepto eu. Claro que eu também envelheci, mas como tenho convivido com este focinho todos os dias da minha vida, não me dou conta dos anos a passar, só quando rumino no assunto claro.
Uns, os anos passaram-lhes forte e feio, e encarcaçaram, engordaram, embranqueceram, desdentaram etc., outros tiveram uma passagem suave amadureceram bem, ainda uns e outros continuam iguais para o bem e para o mal. Os filhos daqueles que tiveram bebés, quando eu vim para a faculdade, estão agora a ter bebés. Quem tinha pancada, continua a ter pancada, embora alguns mudaram-lhe o estilo. Aqueles que tinham a idade que eu tenho agora, ou seja, basicamente os pais dos meus amigos (a minha mãe tinha a idade que eu tenho agora quando vim para a faculdade), que eu já achava umas carcaças naquela época, estão a chegar à terceira idade têm os cabelos brancos (os que não pintam) e pele enrugada e curtida do sol.
Não é novidade para ninguém mas a vida passa a correr.
Na terça tive vários motivos para chorar, o desgosto da perda de alguém querido e que vai muito antes do tempo, e a sensação inexplicável de uma vida que não vivi, que foi interrompida para viver outra, é como se já tivesse nascido duas vezes e tivesse 2 vidas a vida da terra e a vida de Lisboa, as duas partes da minha história, as duas que sou eu, que são a minha vida. O mesmo motivo levou-nos ali a todos, numa união que só é possível nas terras pequenas em que as pessoas se conhecem para o bem e para o mal, onde toda a gente diz mal de toda a gente, e a bisbilhotice é rainha, tertúlia cor de rosa campestre, em que o sofrimento de uns é partilhado por todos, onde todos foram para se despedirem de ti, para chorarem por ti, e isso foi bonito. Não sei se estou louca mas aquela igrejinha branca com barras amarelas no alto da colina, aquele cemitério de muros branquinhos, cheio de flores, onde estão pedaços de todos nós, aquelas centenas de caras chorosas que enchiam a igreja, a escadaria, o caminho, o cemitério, tudo aquilo me comoveu, tudo aquilo me pareceu poético e fez-me sentir um carinho por toda aquela gente, por toda aquela terra e aliviou-me um pouco as penas. Até sempre
quinta-feira, 9 de abril de 2009
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